quarta-feira, 23 de maio de 2012

Eis um dos motivos porque decidimos apoiar as associações em causa no torneio de golfe que estamos a organizar para o dia 17 de junho. 
São causas meritórias que merecem o nosso reconhecimento. E nós apoiamos quem apoia. 
Fica aqui um testemunho real.




“O ESPELHO FICOU DIFERENTE... E EU TAMBÉM”

O “buraco negro”

...Saudades de um corpo que o espelho mostra igual, mas que tem a morte lá dentro.

Durante o mês que precedeu a operação observava o meu peito ao espelho. Tentava guardar
a memória dessa parte do corpo que o espelho mostrava igual ao costume, mas que agora era
maligna. Tudo isto parece um pesadelo. O espelho mostra-me uns seios normais. Espelho,
se fosse confiar em ti... Como é possível que o mal se tenha instalado assim? Porquê eu?
Tristeza, medo, apreensão com o futuro... foi muito importante o contacto telefónico com
alguém que tivesse passado pelo mesmo e que se dispôs a partilhar comigo a experiência da
cirurgia, pós-cirurgia e tratamentos posteriores. Foi assim que conheci a minha “madrinha”,
voluntária do Programa Orísia da Viva Mulher Viva Associação, de doentes de cancro da
mama tratadas no Hospital de S. José.

A intervenção cirúrgica e a hospitalização

O primeiro espelho que ficou diferente foi o desse dia do “levante” depois da cirurgia. Via
um grande penso, em lugar do peito. Como estaria por baixo? A delicadeza da enfermeira
estagiária ao mudar o penso minorou o choque da observação da zona intervencionada.
Durante a hospitalização a psicóloga visitava-me regularmente, e eu ia expondo as minhas
dificuldades e esclarecendo todas as questões clínicas. Um dos aspectos mais importantes
das conversas com as psicólogas consistia no facto de estas poderem relatar outros casos
clínicos semelhantes, o que nos tira do isolamento e da sensação de desamparo, que percorre
a doente oncológica. Ao “e agora?” é extraordinariamente importante responder com casos
concretos, com exemplos de experiências de recuperação e integração.
Muito importante foi a participação dos técnicos de fisioterapia e da enfermagem pelos
importantes conselhos que me deram e que me ajudaram na minha recuperação física.
Mas agora o espelho ia-me pregar outra partida. Após a saída dos resultados da análise
anatomo-patológica aproximava-se o momento em que iria efectuar o tratamento adjuvante,
com várias sessões de quimioterapia.

O CAMINHO e as mudanças necessárias: a quimioterapia

...Sentia-me débil e privada da minha imagem social...

Espelho.... em casa.... quando eu tirava a cabeleira (obviamente incomodativa) eras cruel!

Quem é aquela mulher careca? Sou eu.

Os aspectos desagradáveis e penosos da quimioterapia foram no entanto sempre minorados
pela excelente assistência do pessoal de enfermagem do hospital de dia, em coordenação
com as visitas da psicóloga, no momento da quimioterapia e em consultas regulares e da
minha “madrinha”.

O CAMINHO e as mudanças necessárias: reconstrução plástica

...Vou voltar a ser eu?

O espelho estava novamente diferente... o cabelo já me crescera um pouco, dando-me um ar
“fashion”. E as próteses ofereceram-me um busto interessante (comparativamente ao
anterior).
Ao longo de todo o processo clínico em que passei por várias cirurgias e tratamentos tive o
privilégio de conviver com profissionais que me apoiaram nas várias fases do processo de
uma forma exemplar, e que transformaram completamente a imagem negativa que eu tinha
dos cuidados de saúde dos hospitais do Estado. Se os recursos materiais apresentam por
vezes carências, direi que em compensação os recursos humanos têm uma excelente
qualidade. Poderei, nesse âmbito sugerir alguma coisa? Talvez... uma especial atenção para
assistir a doente de cancro da mama nos momentos mais delicados: o primeiro dia antes e
depois da cirurgia; o primeiro dia da quimioterapia. Por outro lado é também importante
estimular a autonomia da doente, e dar-lhe sempre a melhor e mais clarificadora informação.
E é nesses momentos que a Viva Mulher Viva Associação em estreita colaboração e
articulação com os profissionais de saúde da Unidade de Patologia Mamária do CHLC, EPE,
e em particular com a equipa de Psicologia Clínica, está presente e ainda bem!

O ESPELHO FICOU DIFERENTE... E EU TAMBÉM

Mais bem disposta, mais comunicativa, mais tolerante, mais interveniente, mais atraente!
É assim que me sinto.

Voluntária da Viva Mulher Viva Associação
…///…

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